Com preços baixos, cópias chinesas de produtos eletrônicos atraem consumidores

30/08/2010 02:59

Basta uma grande empresa de eletroeletrônicos anunciar o lançamento de um produto revolucionário que, poucos meses depois, lá estará a versão made in China. Foi assim no lançamento do iPhone da Apple, por exemplo — que ganhou as versões Hi-Phone, iFone e até mesmo SciPhone no outro lado do mundo. Não é só o nome que ficou parecido. Menus, sistema touchscreen e, em alguns casos, até a logomarca da empresa apresenta semelhança. O fenômeno das cópias é conhecido como shanzhai, termo utilizado para referir-se à prática de bandidos que subornavam as autoridades para vender produtos ilegais.

Claro que as cópias não ficam restritas às funções apresentadas pelos aparelhos norte-americanos. O SciPhone, por exemplo, tem reprodutor de arquivos MP3, AAC e vídeos 3GP, além de editor de texto e TV integrada. O PinPhone pode ser confundido facilmente com o original. Tamanho, ícones e funções são as mesmas do modelo de Steve Jobs.

Não é só a Apple que sofre com os shanzais. A Nokia também inspirou vários modelos chineses. O N97 ganhou o nome de Nokla N97. A “vantagem” do modelo chinês é possuir dois slots para chips. Fora isso, o celular tem câmera inferior e resolução de tela muito baixa. “É impossível comparar o produto da indústria legítima, que segue as normas internacionais padronizadoras da produção nos aspectos técnicos, ambientais e jurídicos, com o telefone falsificado, fabricado muitas vezes em instalações insalubres para seus empregados, sem qualquer controle de qualidade ou segurança de seus componentes”, explica Ygor Valério, advogado da Nokia.

Os tablets também encontram seus clones chineses. O APad foi lançado logo após o iPad. Com resolução de 800x480, 128MB de memória e 2GB de HD, o dispositivo roda Android e custa menos de US$ 75. No entanto, nessa categoria a briga ainda vai ser maior. A chinesa Shenzhen Great Loong Brother Industrial acusa a Apple de copiar o modelo P88, apresentado ao público em 2009 na China, e aplicá-lo ao tablet da empresa. O produto possui semelhanças visuais, além de ser touchscreen. Por enquanto, a ação ainda não foi formalizada.

Na área dos videogames, o Playstation 3 ganhou da China o Mini PolyStation 3. A cópia vem com sete jogos internos e precisa de três pilhas para funcionar. Os controles, ao contrário da versão original, são ligados na parte de trás do console. Uma pequena tela conectada ao aparelho é por onde os usuários jogam, pois não há conexão com os televisores.

Do MP3 ao MP32
Um dos grandes atrativos dos eletrônicos chineses é a quantidade de funções dos aparelhos. Televisão digital embutida, sistemas operacionais conhecidos, capacidade para mais de um sim card, além de dos tradicionais tocadores de música e vídeo. Devido a essa união de várias ferramentas, os aparelhos, na maioria chineses, foram ganhando nomes em sequência numérica ao formato de música MP3. Por exemplo, quando ganharam a capacidade de tocar vídeo e produzir filmes, pularam para a categoria MP4 e MP5, respectivamente.

Após adquirir as funções de fotos, filmagens, rádio, touchscreen, Java, Flash, Bluetooth, surgiu o aparelho celular MP32 — o maior número encontrado até o fechamento dessa edição. O telefone nessa categoria possui duas baterias, dois sim cards, GPS (com mapas do Brasil), pode ser usado como pendrive, além de todas as outras opções já citadas. O preço é de cerca de R$ 700, mas pode ser encontrado por menos em sites de leilões. “É importante mencionar que, no Brasil, todo e qualquer telefone celular vendido no país deve ser homologado pela Anatel, que, antes de aprovar um produto, conduz testes para garantir que ele se encontra dentro das normas brasileiras”, afirma Ygor.

Sem assistência
O preço mais acessível dos aparelhos pode chamar atenção na hora da compra, mas a estrutura do aparelho é comprometida por peças de baixa qualidade. Além disso, se quebrar, o usuário não pode reclamar para a empresa ou exigir a troca. Na maior parte das vezes, esses eletrônicos são vendidos em camelôs ou por sites de leilão na internet. “Em algumas indústrias, como a de produtos eletrônicos, a questão é mais grave: produtos falsificados são um risco à saúde de seus usuários. Não há nenhuma informação a respeito dos materiais utilizados na produção desses itens, dos níveis de emissão eletromagnética e da segurança das baterias”, alerta Ygor.

O publicitário Paulo Lobo, 23 anos, comprou um desses aparelhos da China em um site por US$ 100. “O celular era mais parecido com um BlackBerry. O aparelho tinha WiFi, tela touchscreen, capacidade para dois sim cards, sistema operacional Windows Mobile, mas a estrutura era muito fraca”, explica. Após um mês de uso, nada mais funcionava no aparelho. “Não tinha mais como ligar, nem como mexer em nada”, afirma.

Paulo entrou em contato com o site que vendeu o aparelho, que pediu para enviar o aparelho de volta, pois seria feita a troca. “Não mandei o aparelho porque o preço do frete não compensava, seria metade do preço do aparelho”, afirma. Depois dos problemas com o celular, o publicitário não quer mais saber dos xing lings. “Foi a pior compra da minha vida. Esses aparelhos não foram feitos para durar, são descartáveis. O melhor é comprar algo regulamentado”, aconselha.